Banda desenhada pós-não-sei-quê...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Momentos ó foda-se

Ó foda-se, juro que não foi por mal, mas então não é que...então não é que eu tinha pedido o carro emprestado ao Pedro para ir a Sintra visitar a minha tia e pelo caminho, numa daquelas estradas sinuosas e estreitas, me dá uma grande caganeira, daquelas que metem espasmos e uma vontade indescritível de cagar. Pensei logo: foda-se, se não encosto o carro depressa vou cagar o banco todo do Pedro, era uma vergonha, logo da primeira vez que ele me empresta o carro novo. Assim que vi um pedaço de mata, já com os instestinos a quererem sair pelo cu, encostei o máximo possível à berma e corri para trás de um arbusto. É então, quando já tinha libertado a merda que me oprimia (que alívio, caralho!), que ouço um brutal estrondo

o que é isto?

espreito por entre o arbusto, ainda com as calças na mão – merda liquefeita a toda a volta – e vejo uma ambulância capotada no meio da estrada, o carro do Pedro todo espatifado. Fiquei ali paralisado, a ver os mirones a rodearem a cena, até que já havia uma pequena mulitdão, a polícia a indagar quem era o dono do carro, as pessoas a dizerem que devia ter fugido. Foi então que me deu a caganeira a sério...Sem eufemismos: fiquei transido de medo. Eu não podia regressar e enfrentar a censura daqueles tipos...era capaz de ir preso, levar um enxerto de porrada, sabe-se lá...
Meto-me pela mata adentro até chegar a uma povoaçãozinha chamada Ranholas, onde entrei numa tasca e pedi para telefonar:
- Está, Pedro? É pá, é pá, houve um problema com o teu carro...eh, uma ambulância foi-se enfaixar nele...
- O QUÊ?! Onde é que foi isso pá, tu estás bem?
- Estou, eu não estava dentro do carro.
- Como assim? Diz-me onde é que foi essa merda, que eu quero ir lá ver.
- Não, não vás, pá, aquilo está para lá uma grande confusão
Ele que não, que queria ir, e eu, parvo, dou-lhe as indicações do sítio. Então não é que o gajo chegou lá e foi preso, está agora a ser acusado pelo homicídio involuntário de uma criança de cinco anos que ia na ambulância. Ele que não ia ele a conduzir, mas, ò foda-se, eu também não ia... Porque é que havia de ser eu a foder-me, hã?

Texto: Paulo Barbosa

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